Audiência pública sobre mutirões da saúde lota plenário da Câmara

Evento organizado pelo vereador Rodrigo Manga, neste Dia Mundial da Saúde, serviu para discutir ações com o objetivo de diminuir a fila de espera por exames e cirurgia. Devido à ausência, o secretário municipal da Saúde será convocado a dar explicações na Câmara

A audiência pública para discutir a necessidade de mutirões da saúde em Sorocaba, como forma de diminuir a fila de espera para exames e cirurgias, lotou o plenário da Câmara Municipal de Sorocaba na manhã desta sexta-feira (7), data em que se comemora o Dia Mundial da Saúde. O evento, que teve quase três horas de duração, foi organizado pelo presidente da Câmara de Sorocaba, vereador Rodrigo Manga (DEM). O destaque ficou por conta da ausência do secretário municipal de Saúde, Rodrigo Moreno, que será convocado pela Mesa Diretora da Câmara para prestar esclarecimentos sobre o assunto.

“A audiência ficou prejudicada pela ausência do secretário, embora tenha mandado como representante o diretor da Policlínica Municipal de Especialidades, Paulo Oliveira Cordeiro. É um desrespeito com a Câmara, com o prefeito – que o colocou à frente da Saúde – e com o público que veio à audiência, a maioria, munícipes que precisam de algum tipo de intervenção médica. Em respeito a esse público vamos protocolar, na próxima terça-feira (11), o pedido de convocação do secretário da Saúde”, reitera Manga.

Todos os questionamentos protocolados pelos participantes da audiência serão encaminhados à Prefeitura, e os casos envolvendo dificuldade de atendimento a pacientes, às duas ouvidorias do município (Geral e da Saúde), cujas representantes também compareceram à audiência. O Executivo ainda receberá um relatório contendo os principais apontamentos feitos durante o evento.

“A constatação é que o poder público precisa agilizar parcerias com o setor privado e entidades, para fomentar ações de saúde, como os mutirões. Já tem lei aprovada que permite ações do tipo, como aquelas desenvolvidas na cidade de São Paulo e que viabilizaram mais de 83 mil atendimentos na área da saúde”, pontua Manga.

Para a audiência foram convidados também representantes da área da saúde ligados ao setor privado, bem como aos governos estadual e federal; este último não enviou representante. Pela Câmara, além de Manga - que presidiu o evento, marcaram presença os vereadores Hélio Brasileiro, Hudson Pessini, João Paulo Miranda, Renan Ribeiro, Luís Santos, João Donizeti, Fausto Peres e Silvano Júnior.

Discussões
O representante da Prefeitura admitiu que há problemas na área da saúde, mas que a situação existe há anos. “Os mutirões podem ser uma boa solução e estamos pensando nisso. Um megamutirão, com especialistas em todas as áreas, com procedimentos associados à tabela SUS e uso de carreta.”

Ainda segundo Paulo Cordeiro, não adianta fazer apenas mutirões de diagnóstico de casos e depois não ter como prosseguir o atendimento por meio de falta de leitos, de equipes e de recursos financeiros para custeio de cirurgias. “Dependemos de parceiros, pois o município não tem todos os recursos e precisa de pactuações.” Explicou que na Policlínica outros dois mutirões na área de ginecologista estão previstos e que a prefeitura tem projeto de criação de um centro de diagnóstico na Policlínica, solicitação já feita ao Estado.


“A gente não tem saúde, tem doença. É um problema nacional e se agrava com a crise financeira do País e em Sorocaba e região não é diferente. Solucionar problemas coletivos é a prioridade e não somente os individuais. Nesse sentido, a judicialização da saúde é um problema”, apontou a coordenadora do Departamento Regional de Saúde (DRS-16) de Sorocaba, Silvia Ferreira Abraão, que também falou da dificuldade de o Estado fazer mutirões sem apoio de outras esferas da sociedade: “Antes eram feitos muitos mutirões, mas isso acabou. O custo é alto demais para fazer sozinho”.

O presidente do Banco de Olhos de Sorocaba (BOS), Pascoal Martinez Munhoz, anunciou que um mutirão de catarata está previsto para este ano e a triagem dos atendidos caberá à Central de Regulação de Vagas da Prefeitura. “O mutirão é a política mais inteligente, porque utiliza a parte ociosa da instituição, com procedimentos feitos à noite e nos fins de semana. 

Desde consultas, exames e possíveis intercorrências, à cirurgia.” Lembra que em 2013 o BOS fazia 5 mil cirurgias de catarata, o que caiu para 100 ao mês após o Governo Federal interromper os mutirões. “Em abril vamos conseguir chegar a 310. Esperamos que esse pesadelo de demora de atendimento em todas as áreas da saúde passe rápido”, continuou.

Presidente da Associação dos Ostomizados de Sorocaba e Região, Cleide Machado falou da dificuldade de receber apoio do setor público. “Apesar disso em abril conseguiremos fazer um mutirão. Mas a situação é crítica, pois atendemos 429 pessoas na região.”
Conselheiro Municipal da Saúde, Luís Cláudio Zanzarini, queixou-se da falta de gestão na saúde de Sorocaba: “Temos recursos, poucos, mas temos e não utilizamos. Tem caso de paciente que passou 32 vezes por uma UPH e foi para a Santa Casa, ocupou leito, mas não resolveram o problema dele”. O ex-vereador Antonio Carlos Silvano complementou: “Falta tudo no Hospital Regional, desde medicamento a produtos de limpeza. Na Santa Casa tem problemas, assim como nas UPHs. A Privatização talvez seja a solução. A vida vale muito e a gente vê todo dia gente morrendo por falta de atendimento”.

Casos
Durante a audiência, a sorocabana Maria Liege reclamou que seu esposo, paciente ostomizado e renal crônico, está no aguardo de medicação e tem enfrentado dores insuportáveis. Nesse sentido, a coordenadora do DRS-16 revelou que a distribuição a distribuição de medicamentos de alto custo na Farmácia do Hospital Leonor Mendes de Barros cabe ao Estado,

Maria Liege: Seu esposo é paciente ostomizado e renal crônico e está no aguardo de medicação, já passou por transplante, mas as dores se agravando. Silvia responde que a distribuição é responsabilidade do Estado, na Farmácia ao lado do hospital Leonor, porém a aquisição de medicamentos é do Ministério da Saúde. “Há falta desde o início do ano e o déficit de medicamentos é de mais de 30% do montante solicitado.”

Já Isabel de Oliveira, 73 anos, aguarda há cinco anos por cirurgia ortopédica e cobrou atendimento de qualidade. “Fiquei travada na coluna e problemas nas pernas. Tenho um exame de cardiologia marcado há um ano”. Ao passo que Felício Ferraz, 70 anos, há cinco anos espera por cirurgia nos olhos: “Tenho estrabismo bilateral e vergonha de vir aqui pedir ajuda”.

“Vergonha tem que ter o poder público em deixar a situação ter chegado a esse ponto É desumano e lamentável a situação desses sorocabanos que precisam de atendimento há tanto tempo”, emendou o vereador Manga.

Para o também parlamentar Hélio Brasileiro, que integrou a mesa principal da audiência, os problemas na rede de saúde só tendem a melhorar quando as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) funcionarem corretamente. “Não basta só ter médico, precisa de enfermeira, psicólogo, educador físico e outros profissionais. Um atendimento amplo, focando na prevenção, para diminuir o número de internações.”

“Não podemos ficar passíveis ao que está acontecendo em Sorocaba, vamos cobrar parcerias. Nós vereadores não desistiremos de lutar para que a saúde se Sorocaba volte a respirar”, finaliza o presidente da Câmara. A realização dessa audiência na Câmara foi autorizada conforme requerimento desse vereador (nº 291/2017), aprovado no dia 16 de fevereiro deste ano.